Coluna no UOL Esportes

Juca Kfouri: “Apostas esportivas no Brasil: é preciso virar o jogo”

26-09-2023
Tempo de leitura 2:05 min

Segundo o colunista Juca Kfouri (UOL Esporte), a MP das Apostas Esportivas, editada pelo Governo Lula, traz pontos importantes, como o que estabelece que as empresas devem promover ações preventivas para conscientizar os jogadores a respeito do transtorno do jogo patológico. Aqui, sua coluna para nossos leitores:

Marcelo, lateral-esquerdo do Fluminense, é o rosto de campanhas da Sportingbet, uma das maiores no segmento mundial. Vini Junior, do Real Madrid e da Seleção Brasileira, fechou patrocínio com a Bet Nacional. Galvão Bueno faz sucesso chamando as pessoas para “betarem” no Pixbet e celebridades da música e da televisão usam seu poder de influência em memes, como Betty Faria, que faz brincadeira com o próprio nome: “essa aposta a Bet Faria”, Beto Jamaica, ex-integrante da banda É O Tchan e ex-jogadores como BeBETo, também fazem alusão ao próprio nome, em trocadilhos para atrair apostadores. Bet, em inglês, significa aposta.

Em matéria publicada pela repórter Jenne Andrade, em 05 de abril deste ano, o Estadão trouxe reportagem sob o título: R$ 200 mil em dívida e depressão: histórias de viciados (sic) em apostas online”. Em resumo, a matéria traz casos de pessoas que perderam muito dinheiro, além da sanidade física e mental, em sites de apostas. E traz um quadro sobre o aumento do número da procura por internamentos clínicos para tratar da doença, tipificada como jogo compulsivo DSM-5, dependência em jogos de azar (sejam eles esportivos, ou eletrônicos em geral), pela Associação Americana de Psiquiatria.

Um entrave para que pessoas físicas que se sentem lesadas acionem judicialmente empresas de apostas esportivas é a jurisdição. A Betano, por exemplo, tem sede em Malta, na Europa, e não tem representação no Brasil. Assim como suas concorrentes diretas, a casa de apostas opera no país apenas por plataformas online.

A MP das Apostas Esportivas, editada pelo Governo Lula, traz pontos importantes, como o que estabelece que as empresas devem promover ações preventivas para conscientizar os jogadores a respeito do transtorno do jogo patológico, com o intuito de evitar que as apostas se transformem em dependência. Na prática, é uma boa iniciativa. Porém, como se daria isso para valer? Quem conhece os sites sabe que já existem botões de “jogo responsável”, mas é notório que eles podem ser facilmente burlados pelos próprios jogadores. Quem fiscaliza o apostador quando ele está “na ativa”, apostando para “recuperar o prejuízo”?

Analistas e educadores financeiros são unânimes ao avaliar que, em uma aposta esportiva, todo resultado é possível, inclusive o prejuízo. Portanto, nunca há garantias de vitória. E, para o apostador que começa ganhando, a grande ilusão é a de que aquele resultado se repetirá por muitas vezes, o que poderá torná-lo um dependente em 10 a 20% dos casos, em média.

Somado a isso, ainda temos visto muitos jogadores envolvidos em escândalos de manipulação de resultados recentemente, alguns deles também acometidos pela adicção, como é o caso do inglês Ivan Toney, do Brentford, da Primeira Divisão da Inglaterra, que atualmente cumpre suspensão de nove meses depois de betar contra o próprio time em casas de apostas britânicas. Ou de Alef Manga, dispensando do Coritiba por suspeita de manipulação de resultados, atualmente no futebol do Chipre.

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