O desenvolvimento de tecnologias online e o projeto de lei de apostas esportivas no Brasil levaram toda a região a se concentrar no processo de regulamentação dos jogos de azar e no uso de suas receitas. No caso do Uruguai, foi o presidente das Bancas de Quinielas (empresa dedicada à administração dos jogos de azar), Roberto Palermo, quem levantou a voz.
Em entrevista ao jornal El País, o dirigente opinou sobre o projeto de lei que regulamenta os jogos de cassino online em seu país. Palermo questionou a criação de um mercado competitivo entre diferentes operadores, ao mesmo tempo em que destacou o trabalho de sua entidade com as agências que administram os jogos de azar no Uruguai.
"Em todo o mundo e como em qualquer atividade, a tecnologia trouxe mudanças importantes na oferta e na demanda, que devem ser abordadas. Mas o jogo não é como transporte, entrega, viagem, acomodação ou bens em geral. O jogo envolve a saúde e o bem-estar da população, e é por isso que é uma questão de política pública que precisa ser regulamentada", comentou, sobre o projeto de lei para regulamentar os cassinos online que a Câmara dos Representantes (órgão semelhante à Camara dos Deputados do Brasil) está analisando.
Na mesma linha, Palermo enfatizou a importância do Estado como regulador, afirmando que "essa não é uma questão que possa ser deixada para o mercado determinar. Não é aumentando a oferta de jogos, permitindo ou autorizando várias empresas a oferecer serviços de jogos e apostas por meio de várias plataformas tecnológicas que se determinará um benefício social". Ele ainda argumentou que os jogos de azar online em um mercado competitivo podem levar a vícios.
Palermo se referiu ao modelo uruguaio como algo "quase único no mundo", onde os mais de 1.000 agentes das Quinielas operam agrupados em 28 bancas. "Os melhores resultados são os de países com sistemas como o que já temos no Uruguai, com um monopólio, sim, um monopólio estatal que, como no nosso caso, concede a gestão dos jogos de loteria e apostas esportivas aos agentes da Quinielas".
Atualmente, as Bancas de Quinielas do Uruguai são certificadas pela Associação Internacional de Loterias (WLA, na sigla em inglês), seguindo suas diretrizes em relação à prevenção do vício em jogos de azar, estabelecendo os critérios de valores, horários e frequência dos jogos e a exigência de uma idade mínima para apostar.
"As contribuições totais para o Estado que fizemos no ano passado foram da ordem de US$ 80 milhões, dos quais mais de 60% correspondem ao IVA, que é o imposto sobre apostas no nível das Bancas de Quinielas", explicou.
Com relação à situação dos jogos de azar online, que estão em crescimento em todo o mundo, Palermo tomou uma posição: "a melhor solução para permitir jogos de cassino online seria por meio de uma única plataforma, integrada pelas concessionárias no local, sem uma concorrência aberta e pública que apenas levaria ao crescimento do vício em jogos de azar e à diminuição da receita do Estado".