Entrevista à Veja

Máfia das apostas: ex-integrante do grupo revela detalhes da manipulação de jogos de futebol

Bruno Lopez de Moura, envolvido no esquema conhecido como "máfia das apostas" (foto de Claudio Gatti/Veja)
27-10-2023
Tempo de leitura 2:17 min

Em entrevista à revista Veja, o ex-jogador de futsal Bruno Lopez de Moura, um dos envolvidos no caso que ficou conhecido como “máfia das apostas”, revelou detalhes de como funcionava o esquema criminoso.

Moura é apontado pelo Ministério Público de Goiás como o líder de uma quadrilha que subornava atletas para manipular lances, punições e resultados de jogos da série A e B do Campeonato Brasileiro. O objetivo era faturar com apostas esportivas. A investigação levou o ex-jogador à prisão em fevereiro deste ano, sendo que, desde agosto, está solto.

Conforme relatado na matéria, o primeiro time a descobrir as fraudes foi o Vila Nova, atualmente na série B. “O Bruno me ligou e disse que teria organizado com Romário [jogador do Vila Nova] e atletas de outros dois clubes uma combinação de resultados que favorecesse uma aposta específica. A combinação seria o cometimento de pênaltis no primeiro tempo de três jogos (Sampaio Corrêa x Londrina, Tombense x Criciúma e Vila Nova x Sport)”, afirmou Hugo Jorge Bravo, presidente do Vila Nova, aos promotores.

Apesar de assumir a participação na máfia das apostas, Moura nega ser o líder da quadrilha e afirma que, antes de entrar no esquema, ele já existia e era encabeçado por Thiago Chambó, também preso na operação.

“O Thiago Chambó já fazia apostas quando fui apresentado a ele, em junho ou julho do ano passado. Tivemos a primeira reunião e ele falou que tinha alguns jogadores, mas que precisava de outros atletas, pois somente os dele não podiam ser utilizados todo final de semana. Ele já estava no ramo fazia algum tempo. Na primeira reunião, citou nomes de atletas com os quais trabalhava. Ele citou jogadores famosos, como um do São Paulo e outro que tinha jogado muitos anos pelo Corinthians, mas eu não sei se foi da boca para fora, para se gabar, ou se realmente eles estavam envolvidos”, afirmou Moura na entrevista.

R$ 720 mil faturados logo na primeira vez

Na primeira vez em que o esquema ilegal foi colocado em prática com sucesso, o grupo faturou R$ 720 mil, utilizando cinco atletas de quatro times diferentes. Era usado um robô para fazer várias apostas, com os integrantes do grupo já sabendo o que os jogadores fariam na partida.

“É um sistema que ele [Thiago] disse ter comprado em Dubai e que era operado por um rapaz de apelido “Nerd” [seu nome é Pedro Rimes da Silva]. O Nerd pegava um grupo de quatro atletas e fazia trinta, quarenta apostas múltiplas e simultâneas. Para não atrapalhar a jogada do robô, o Thiago pedia para ninguém fazer apostas manuais, sob risco de inviabilizar o esquema", explicou Moura.

Na entrevista, Moura disse ainda que há muitas pessoas envolvidas em esquemas de manipulação de apostas, inclusive de outros países. “Tem muita gente fazendo. Mesmo quando eu estava jogando no Brasil, recebi propostas para fazer isso. Isso nunca parou.”

Mais de 20 jogadores envolvidos no escândalo foram denunciados pelo Ministério Público. Dez atletas foram punidos pelo Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) com penas que vão de suspensão ao banimento do esporte.

Um exemplo é o jogador Ygor Catatau, que, na época do esquema, jogava pelo Sampaio Côrrea e foi banido do futebol. A decisão, inclusive, foi ratificada pela Federação Internacional de Futebol Associado (Fifa).

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