Neste final de semana o Estadão apresentou um resumo sobre a regulamentação das apostas esportivas no Brasil. O projeto que regulamenta as apostas de quota fixa foi aprovado na Câmara dos Deputados e será votado em breve no Senado depois de receber mais de 80 emendas - e, se aprovado, voltará para análise dos deputados.
O texto prevê nova distribuição de arrecadação, tributação sobre prêmios de casas de apostas, regulamentação da publicidade no setor e algumas restrições também. A expectativa do governo Federal é que a proposta seja aprovada neste mês.
Confira abaixo a série de perguntas e respostas para se aprofundar sobre as apostas esportivas, cujo setor investe bilhões anualmente no futebol nacional.
O projeto de lei que regulamenta este novo mercado e institui a taxação foi aprovado em setembro na Câmara dos Deputados e apreciado nesta quarta-feira, dia 8, pela Comissão de Esporte do Senado, mas ainda tramita na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) e, depois disso, será votado no plenário do Senado.
As apostas são legalizadas no Brasil desde 2018, mas ainda não foram regulamentadas, o que fez com que as empresas do setor operassem numa espécie de limbo regulatório. Sem fiscalização, proliferam as suspeitas de manipulação de resultados e de lavagem de dinheiro.
Políca Federal já desmontou diversos esquemas de manipulação de resultados
A maioria das pessoas pode, mas não todas. Para isso, é preciso fazer um cadastro com informações pessoais e seguir todas as orientações necessárias de casa site. Os ganhos também são depositados na conta corrente informada neste cadastro pelo apostador. Tudo é feito de forma online porque as casas de apostas não estão fisicamente no Brasil.
De acordo com o projeto de lei aprovado na Câmara, não poderão realizar apostas dirigentes de futebol, empresários esportivos, integrantes de federações, treinadores, membros de comissão técnica, árbitros e jogadores de futebol, além de agentes públicos ligados à regulação ou fiscalização federal dessas apostas ou pessoa com acesso aos sistemas informatizados dessa loteria. Estarão impedidos de jogar também os menores de 18 anos.
Não. Nem pode haver porque elas ainda não estão regulamentadas para operar no Brasil. São sites com sede em outros países. Esse quadro mudar depois da regulamentação do governo.
O Ministério da Fazenda publicou recentemente uma portaria para regulamentar pontos gerais das apostas esportivas. O texto assinado pelo ministro Fernando Haddad determina que a empresa de apostas só possa atuar no País se for credenciada junto ao governo e tiver sede no território nacional. As Bets também terão de comprovar a origem lícita dos seus recursos e não poderão ter em seu quadro societário atletas profissionais, integrantes de comissão técnica, árbitros ou dirigentes de equipe esportiva brasileira. No âmbito do jogo responsável, o texto obriga o operador a promover ações de conscientização sobre o transtorno do jogo compulsivo.
Empresas do setor patrocinam 39 dos 40 times das séries A e B do campeonato brasileiro
O projeto de lei prevê taxação de 18%, que vai incidir sobre o chamado GGR (gross gaming revenue, na sigla em inglês) recolhido pelas empresas, ou seja: sobre a receita obtida com os jogos, subtraídos os prêmios pagos aos apostadores.
Para 2024, considerando apenas as apostas esportivas, a cifra prevista no Orçamento é modesta, de R$ 728 milhões, já que será o primeiro ano da regulamentação. Mas a expectativa é de que esse montante cresça exponencialmente. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou ter uma estimativa de arrecadar R$ 2 bilhões com a taxação de apostas esportivas online em 2024, mas essa é uma projeção conservadora. Parlamentares calculam que o potencial arrecadatório da medida possa alcançar R$ 18 bilhões em um mercado totalmente regulado. A equipe econômica ainda está refazendo as contas e não fechou estimativas.
A estimativa é de que o setor invista R$ 3,5 bilhões em patrocínios no futebol por ano. O valor abarca clubes, competições e transmissões na televisão. A própria CBF se juntou a uma marca para seu campeonato.
Além da taxação das apostas, o governo deverá cobrar uma outorga dos sites no valor de R$ 30 milhões, para poderem operar legalmente no País. A duração é de três anos.
O projeto de lei não estipula um limite para o apostador. Isso cabe a cada uma das casas de apostas, que têm de detalhar essas regras em seus regulamentos.
Os prêmios para pessoas físicas serão taxados em 30%, e o IR será retido na fonte. O apostador, portanto, recebe o líquido do que ganhou. Esse modelo é o mesmo adotado na loteria federal.
Não há dados oficiais sobre quanto o segmento movimenta no Brasil. Projeções variam de R$ 10 bilhões a R$ 100 bilhões em um único ano, de acordo com agentes das apostas. A H2 Gambling Capital estima que o mercado nacional de apostas esportivas tenha crescido 44,4% de 2021 a 2022, atingindo R$ 4,5 bilhões em receita bruta (GGR), e deve chegar a R$ 9,2 bilhões até 2027 (um aumento de 105%).
E no mundo?
No mundo, estima-se que o valor de apostas legais em esportes seja de US$ 40 bilhões. No entanto, o valor apostado ilegalmente é muito superior: entre US$ 340 bilhões e US$ 1,7 trilhão, de acordo com os cálculos da Unidade de Prevenção do Crime e Segurança Pública das Nações Unidas durante a 2ª Cúpula da Integridade Esportiva Brasileira, realizada em Brasília.
Texto do PL 3626/23 já recebeu mais de 80 emendas no Senado, e deve ser votado este mês
As casas de apostas patrocinam quantos times?
Dos 40 clubes das duas principais divisões nacionais, apenas o Cuiabá não é patrocinado por alguma plataforma de aposta. O Palmeiras não tem o patrocínio no time masculino, mas tem na equipe feminina e em algumas propriedades comerciais.
Segundo levantamento da empresa de aposta Mr. Jack, o futebol tem a preferência dos apostadores esportivos no País, com 85,7%. Há vários tipos de apostas, desde o gol de um time, até cobranças de lateral, número de cartões e escanteios. De acordo com o levantamento, as cinco principais categorias incomuns em que os brasileiros já apostaram são: sinuca (35%), reality shows (29%), F-1(26%), tênis (16%) e dardos (14%).
Até o fim de 2023, de acordo com projeção da Mr.Jack, a estimativa é de que as casas de apostas esportivas faturem R$ 120 bilhões, representando um aumento de 71% em relação a 2020, quando a receita foi de R$ 7 bilhões.
Pesquisa sobre jogo responsável realizada com 2,5 mil pessoas pela Playtech, que no Brasil é sócia da plataforma galera.bet, patrocinadora do Campeonato Brasileiro e CBB, apontou que 91% dos apostadores se consideram responsáveis, 52% dos entrevistados afirmaram ter recebido um aviso sobre seu comportamento de jogo ao menos uma vez e 44% disseram que gostaram de receber mensagens de proteção ao jogador enquanto jogavam.
O estudo também mostrou que 39% dos entrevistados creem que o setor de apostas poderia fazer mais para adotar diretrizes claras a fim de reduzir os possíveis riscos relacionados ao jogo. Ainda, 14% acreditam nos esforços do governo para conter os riscos associados ao setor.