O presidente do Vila Nova, Hugo Jorge Bravo, foi peça-chave para a investigação de um esquema de manipulação de resultados no futebol brasileiro que levou 15 jogadores a se tornarem réus na Justiça como parte da Operação Penalidade Máxima.
Em novembro de 2022, o dirigente esportivo recebeu a denúncia de que um atleta do seu clube recebeu dinheiro para manipular uma partida da Série B do Brasileirão e, assim, beneficiar um esquema ilegal de apostas. Ele, então, reuniu provas e procurou o Ministério Público. Em entrevista ao jornal O Globo, Bravo falou sobre o caso e disse que já havia ouvido relatos de manipulação muito antes disso.
“A primeira vez que ouvi sobre uma denúncia de manipulação foi em 2020. O jogo era Vila Nova e Imperatriz, pela Série C, no Maranhão (o jogo terminou 3 a 1 para o Vila Nova). O time do Imperatriz procurou um atleta do Vila para dizer que a partida estava vendida. Na época, eu fiquei sabendo, mas não consegui reunir provas”, explica.
Bruno Lopez, acusado de chefiar esquema de manipulação de resultados
Já em 2022, Bravo conseguiu as provas de que precisava. “Uma pessoa ligada ao jogador Romário (Marcos Vinicius Alves Barreira), que era do Vila, me procurou para dizer que ele estava sendo pressionado por causa de uma aposta que tinha dado errado. Alguém estava ameaçando o Romário para que ele pagasse pelo prejuízo. Eu perguntei quem era a pessoa que estava cobrando e me passaram o perfil dele no Instagram (Bruno Lopez, acusado de chefiar o esquema de manipulação de jogos do Brasileirão). Era tudo que eu precisava”, explica.
Bravo, então, entrou em contato com Lopez e fingiu interesse em ajudar no esquema de apostas. “Inicialmente, ele me ligou e conversei com ele por chamada de voz. Aí ele foi abrindo: disse que tinha um acerto para que três jogos da última rodada da Série B tivessem pênalti no primeiro tempo."
"O jogador que ele procurou aqui foi o Romário, que não ia jogar e ficou responsável por cooptar algum outro jogador. Ele recebeu R$ 10 mil de sinal. Se o pênalti acontecesse, receberia mais R$ 140 mil. Só que nenhum outro jogador aceitou. E, como o pênalti não aconteceu, os apostadores estavam cobrando o prejuízo. Como eu sabia que precisava produzir provas mais concretas, fui ganhando a confiança e induzi ele a escrever no aplicativo, para deixar tudo registrado. De posse das mensagens, procurei o Ministério Público”, afirmou.
Na opinião de Bravo, jogadores envolvidos em escândalos de manipulação de resultados merecem ser banidos do futebol. Em sua visão, esse tipo de situação quebra a confiança, que é a base do esporte e mexe com a paixão dos torcedores. “Acho que a CBF já deveria ter agido de forma mais rápida quanto aos primeiros atletas identificados, em fevereiro. Eles já deveriam ter sido suspensos. E os novos nomes que surgiram também devem ser suspensos logo. A resposta precisa ser rápida e enérgica para estancar essa situação”.
Em relação ao projeto de regulamentação das apostas esportivas (aprovado no plenário do Senado e enviado novamente para a Câmara dos Deputados), o presidente do Vila Nova defende que ações individuais (cartão amarelo, falta, pênalti, por exemplo) não deveriam ser objetos de apostas. O motivo, segundo Bravo, é que a possibilidade favorece manipulações para beneficiar apostadores específicos.