As nove federações de futebol do Nordeste fecharam parceria com a Sportradar para a implementação de um sistema de prevenção contra a manipulação de resultados.
Uma plataforma online educacional já foi disponibilizada para as federações, que poderão encaminhá-la para os clubes. Nela, jogadores e comissões técnicas do futebol de base e profissional desses estados terão acesso a vídeos e treinamentos sobre o que é manipulação de resultados, como funciona o mercado de apostas, as relações com o crime organizado, como atuam manipuladores, quais são as regras no Brasil e na Fifa sobre apostas, e as consequências para quem comete irregularidades.
O objetivo é que os times nordestinos que vão disputar a Copa São Paulo de Futebol Júnior de 2024 cheguem à competição já com esse treinamento realizado. O Zumbi, de Alagoas, recebeu propostas de manipulação na última Copinha, segundo a federação de futebol local.
— Fomos alvos recorrentes de grupos que tentaram manipular resultados, da primeira divisão até as competições de base. Não tem muita diferença no Nordeste: quem faz isso em Alagoas depois vai para outro estado. Os problemas são comuns a todos. Os atletas não têm conhecimento algum das consequências disso. Vamos começar por aí, tentando educar, para evitar punições — disse o presidente da federação alagoana de futebol, Felipe Feijó, à reportagem do GE.
As federações poderão monitorar se os clubes estão fazendo o trabalho direito, ao ter acesso ao progresso dos jogadores na plataforma. Isto é: saber quem está assistindo aos conteúdos. O vídeo educacional tem cerca de 25 minutos de duração.
Polícia Federal já realizou mais de 30 prisões relacionadas a manipulação no Brasil desde 2022
Os jogadores precisam responder no final do treino a um questionário e depois recebem um certificado. A participação em manipulação de resultados gera consequências negativas além da punição esportiva. O atleta fica com ficha criminal e pode sofrer ameaças e chantagens.
— Se um jogador de alto nível, de Série A, foi convencido a isso (manipular), imagina descendo o nível, para atletas da Copinha, que não recebem salário e têm poucas chances de virarem profissionais? Quanto mais descermos na pirâmide, mais eles são suscetíveis. Quem aceita está quebrando um princípio fundamental do jogo — comentou Feijó.
O Brasil terminou o ano passado como o país com o maior número de jogos suspeitos de manipulação de resultados em todo o mundo, segundo relatório anual de integridade da Sportradar, que também é parceira da CBF, da Uefa e da Fifa.
A operação Penalidade Máxima, do Ministério Público de Goiás (MP-GO), já está em sua terceira fas continua investigando casos de manipulação em um escândalo que teve início em 2022 e já prendeu dezenas de envolvidos. A Veja chegou a publicar uma entrevista com um dos líderes dessa máfia.