Em coluna na Folha de S. Paulo, Bernardo Guimarães, doutor em Economia pela Universidade Yale (nos Estados Unidos), analisou a situação do jogo do bicho no Brasil e a sua relação com o crime organizado.
Na visão de Guimarães, que é professor da Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGV/EESP), a atuação do poder público para coibir o jogo do bicho no país não tem surtido efeito ‒ pelo contrário, só tem levado a casos de corrupção dentro do Estado.
“A resposta usual, há décadas, é que os bicheiros e seus cúmplices policiais precisam ser punidos e as atividades ilegais devem ser reprimidas. Não tem funcionado. Há décadas, anotadores de jogo do bicho vendem suas loterias pela cidade, enquanto os chefões aparecem nos desfiles de escolas de samba com status de presidentes de empresas”, afirma o colunista.
Ele cita que, além de ineficiente, manter o jogo na proibição traz um custo: a perda de arrecadação. Afinal, não há recolhimento de impostos para atividades que estão à margem da lei.
“Legalizar o jogo tiraria uma altíssima fonte de renda das mãos dos gangsters e as traria para empresários como os donos de lotéricas, sites de apostas ou sites que vendem opções binárias”, aponta Guimarães.
O colunista menciona a preocupação com a questão da ludopatia, mas considera que “tirar o jogo do bicho das mãos do crime organizado seria um benefício enorme da legalização”.
Como lembra o autor do texto, o tema também está presente no Congresso: o projeto de lei (PL) 2.234/22 (antigo PL 442/91) prevê a legalização dos cassinos, bingos e do jogo do bicho. A iniciativa, no momento, aguarda discussão na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania do Senado, onde já recebeu parecer favorável do relator, senador Irajá Silvestre (PSD-TO).
“O vício em jogos existe. O problema é que o remédio pode ser pior que a doença. Temos que optar entre o inseto e o inseticida. A proibição fortalece o crime organizado, então só faz sentido se as consequências da legalização forem muito ruins”, conclui Guimarães.