Conferência da Cibelae concentra-se na luta contra a manipulação de resultados e apostas ilegais durante o primeiro dia de palestras

O primeiro dia da Conferência Cibelae 2024 foi realizado nesta quinta-feira, com a presença de autoridades e especialistas que deram suas opiniões sobre "Apostas esportivas na América Latina: abordagens para um mercado em desenvolvimento".

O evento, organizado pela Corporación Iberoamericana de Loterías y Apuestas del Estado (Cibelae) com a colaboração ativa do Conselho da Europa (COE) e da United Lotteries for Integrity in Sports (ULIS), continuará hoje seu segundo dia no Hotel Sofitel Recoleta, na cidade de Buenos Aires,

O primeiro dia, que teve durante a manhã a reunião do Conselho de Administração da CIBELAE, começou com o discurso de abertura de Rebecca Paul, Presidente da WLA, e Javier Milián, Presidente da CIBELAE.

A presidente da World Lottery Association mencionou a necessidade de se envolver na defesa da integridade esportiva e destacou o papel do Conselho da Europa (COE) e da WLA. "Qualquer violação da integridade prejudica a todos nós e põe em risco nossa capacidade de arrecadar dólares para causas sociais, educacionais ou ambientais", disse ela.

Milián, que também é presidente da Loteria Nacional de Beneficência (LNB) de El Salvador, enfatizou a importância de realizar um "trabalho coordenado" com a WLA e de poder implementar o conhecimento e a experiência dessa entidade global na Ibero-América.

Primeira sessão
 
Teve início a sessão "Visão geral da manipulação de competições esportivas, crime organizado e o cenário das apostas". O primeiro palestrante foi Luca Esposito, Diretor Executivo da WLA e Secretário Geral da ULIS, com sua apresentação "Manipulação de competições esportivas: explorando o cenário e o mercado de apostas ilegais".

Em sua palestra, Esposito discutiu as atividades estratégicas que estão sendo realizadas para combater a manipulação de resultados, como a criação de um grupo de trabalho global e a implantação de um sistema de monitoramento para ficar de olho nas diferentes competições, bem como nos países e esportes com mais alertas. Ele também mencionou a colaboração da ULIS com várias organizações esportivas para apoiar seu trabalho.

Em seguida, Younes El Mechrafi, Diretor Geral da La Marocaine des Jeux et des Sports, discutiu "O papel das loterias no combate à manipulação de competições esportivas e apostas ilegais". Ele se referiu à Convenção Macolin, assinada em 2021 pelo Marrocos, como um instrumento fundamental para sua organização no enfrentamento dos desafios impostos pela manipulação de resultados.

Em terceiro lugar, Christian Kalb, especialista independente, fez sua apresentação "Safeguarding sporting integrity: exploring the risks and implications for society and public order", na qual abordou os antecedentes históricos da manipulação de resultados e como a tipologia da manipulação de resultados mudou. Ele relatou que 50% dos alertas de manipulação de resultados vêm de apenas 10 países e que a América Latina está posicionada como um "alvo principal" para o setor de apostas esportivas. Ele também listou algumas recomendações para limitar os riscos, como o controle dos operadores legais, a proibição dos ilegais e a promoção da cooperação nacional e transnacional.

Enquanto isso, Graciela Garay, diretora de ética e conformidade da CONMEBOL, apresentou "Uma estratégia da confederação de futebol para combater a manipulação de competições esportivas" e destacou a "determinação e transformação" de sua instituição para alcançar a transparência no futebol sul-americano. Nessa linha, comentou que investiu em pesquisas e relatórios, por meio de empresas como a Sportradar e entidades como a ULIS e o IBIA, para fortalecer a integridade. Ele também mencionou a necessidade de reforçar os acordos interinstitucionais e de ter as casas de apostas legais como aliadas para erradicar a corrupção.

Por fim, foi a vez de Philippe Auclair, jornalista investigativo, que analisou "A regulamentação das apostas esportivas: como as operadoras de apostas ilegais e não licenciadas exploram sistematicamente o vácuo regulamentar no Sul".

Ele afirmou que 61% dos jogos de azar on-line são ilegais e que o mercado clandestino chega a US$ 1,7 trilhão por ano. Ele também disse que a Convenção Macolin pode ajudar a diferenciar os chamados "operadores do mercado cinza", que têm licenças como a de Curaçao para operar em países da América do Sul ou da África.

Segundo painel

O segundo painel, intitulado "Principais desafios no combate à manipulação de competições esportivas", contou com a participação do Oficial Especializado Regional da INTERPOL, Fabio Hegenbart Bueno, com sua apresentação "A importância da cooperação policial internacional no combate à manipulação de resultados e apostas ilegais".

O especialista analisou a história da manipulação de resultados e argumentou que, à medida que mais dinheiro circula, aumenta também a entrada de grupos criminosos com poder financeiro para manipular jogos por meio de apostas ou suborno. Para combater a lavagem de dinheiro e capturar criminosos, ele propôs o fortalecimento da cooperação policial internacional, que permite a troca de informações e o acesso a bancos de dados globais e assistência especializada.

Em seguida, Saskia Núñez Proano, especialista em anticorrupção e transparência do UNODC, fez a apresentação "UNODC Perspectives on Combating Competition Manipulation". A representante do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime mencionou o programa para proteger o esporte da corrupção. Ela também ressaltou a importância da cooperação internacional, principalmente com as organizações esportivas, da conscientização sobre o tema e do fortalecimento dos canais de denúncia.

Em seguida, Fernando Martins Cesconetto, promotor de Justiça do Ministério Público do Estado de Goiás, apresentou "Lições aprendidas em um caso de manipulação no futebol brasileiro". O especialista falou sobre sua experiência ao liderar a Operação Maximum II para desmantelar um esquema de manipulação de resultados que envolvia vários jogadores e mais de um campeonato no Brasil.

Enquanto isso, Guy Reinenbergh, coordenador nacional de fraudes esportivas da Polícia Federal da Bélgica, abordou outro esporte com "MAESTRO: Desvendando o desmantelamento da maior rede criminosa do tênis". Em sua palestra, ele comentou sobre o caso que desarticulou a maior rede de manipulação de resultados do tênis profissional, com o policial Nicolas Borremans à frente de uma exaustiva investigação.

Para encerrar o dia, Federico Dario Teijeiro, jornalista investigativo e de dados, apresentou uma visão geral sobre "Manipulação de competições esportivas e apostas ilegais na Argentina: uma perspectiva sul-americana". Em sua análise, ele forneceu uma visão do cenário atual na Argentina em relação ao papel das apostas esportivas em casos de manipulação de resultados.

Congresso Cibelae 2024