"A manipulação ocorre como o doping. Ninguém quer acreditar, até a gente perceber que isso pode ocorrer em qualquer lugar". Com afirmações contundentes como esta no primeiro dia da CPI das Apostas no Senado, o dono da SAF do Botafogo, John Textor, reafirmou suas denúncias de manipulação de resultados no futebol brasileiro.
Primeiro depoente da comissão, o norte-americano respondeu a perguntas durante três horas e reiterou que tem provas sobre manipulação de partidas do Campeonato Brasileiro de futebol de 2022 e 2023. As denúncias constam, segundo ele, em análises de jogos da Good Game!, empresa francesa que avalia arbitragem com ajuda de inteligência artificial.
A segunda parte da reunião ocorreu sob portas fechadas, em que Textor apresentou aos senadores do colegiado suas provas e nomes de possíveis envolvidos, entre jogadores, árbitros e dirigentes.
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Ao final da sessão, o presidente Jorge Kajuru (PSB-GO) disse que há "indícios indiscutíveis" de manipulação de resultados no material apresentado por Textor e que agora cabe à CPI investigar os fatos.
"Chegamos a uma conclusão por unanimidade. Ao invés de falarmos em provas, temos que dizer que o que obtivemos foram indícios indiscutíveis e com conteúdo. Não foi blá blá blá. Foram quase duas horas de demonstrações, imagens e de tudo esclarecido", disse Kajuru.
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"O que nos leva a não dizer que esses indícios não poderão virar provas. Cabe a nós escolhermos os convidados para que possamos dar sequência à investigação. Essa CPI buscará na Polícia Federal a companhia para tudo que vimos e tomamos conhecimento", completou.
Análise por inteligência artificial
Segundo Textor, a tecnologia usada pela empresa Good Game! não diz por que o jogo foi manipulado, mas aponta como foi. O dirigente disse que alguns jogos afetaram o Botafogo de forma indireta. Para o empresário, se as provas forem consideradas, o Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) — órgão ligado à Confederação Brasileira do Futebol (CBF) e sem relação com o Poder Judiciário —, e também a polícia e a CPI poderiam tomar iniciativas.
"Não venho aqui para ganhar um troféu ou ser congratulado. O que nós descobrimos não é nada diferente do restante do mundo, Bélgica, França, toda a Europa. A manipulação de resultados [no esporte] é uma realidade, e devemos deixar nossa paixão de lado e o que ocorreu no ano passado pode ter ocorrido outras vezes", acrescentou.
Textor também falou sobre a existência de um áudio que comprometeria um árbitro. O dono da SAF do Botafogo já havia declarado que clubes como São Paulo e Palmeiras teriam sido beneficiados, mas reforçou que não fazia acusação aos times nem aos seus dirigentes.
Assista ao depoimento de John Textor na CPI: