Em meio às acusações do dono do Botafogo, John Textor, de que o Brasileirão de 2023 foi manipulado, o CEO da Sportradar, Carsten Koerl, declarou à Folha de S. Paulo que não foram detectadas anomalias em relação a apostas esportivas no campeonato do ano passado.
Com base em um relatório da empresa francesa Good Game! que analisa o comportamento de árbitros e jogadores, Textor tem feito declarações segundo as quais uma série de jogos teria sido sofrido manipulação.
Entre as partidas, estariam a vitória do Palmeiras por 5x0 sobre o São Paulo e a vitória do Flamengo por 2x1 sobre o Botafogo. O tema está sendo, inclusive, discutido na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Manipulação de Jogos e Apostas Esportivas, no Senado.
"Entendo que não foi o resultado preferido para o dono de um time. Mas nosso sistema não detectou evidências de manipulação”, disse Koerl à Folha de S. Paulo. Apesar das acusações, Textor, até o momento, não sugeriu que casas de apostas estariam envolvidas no suposto esquema.
Koerl afirmou ainda que o método da Good Game! (que usa inteligência artificial para analisar os movimentos dos jogadores e determinar se, por exemplo, uma falha do jogador foi proposital ou involuntária) não é o mais adequado.
“É um caminho errado analisar manipulações [de resultados] com base em padrões físicos dos jogadores. É muito mais importante analisar os fluxos de liquidez e ver a partir dos comportamentos de apostas se há alguém que os utilizou. Eu era um jogador amador e ruim”, declarou, acrescentando que há uma série de fatores que podem influenciar o desempenho de um atleta dentro de campo, como a condição física.
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A Sportradar monitora sites de apostas para detectar movimentações suspeitas. O trabalho é feito com inteligência artificial e com profissionais humanos que fazem a averiguação.
Carsten Koerl (à esquerda)
Em março deste ano, a empresa divulgou seu relatório apontando que houve 109 partidas suspeitas no Brasil em 2023 ‒ nenhuma delas, no entanto, foi na série A do Brasileirão, como acusa Textor.
Parceria da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) desde 2018, a Sportradar também atua com monitoramento para a Fifa, Uefa e Conmebol. À Folha, Koerl afirmou que a empresa deseja aumentar a atuação no Brasil e opinou sobre o processo de regulamentação do setor de apostas.
“Vejo em muitos países uma disputa entre regulamentações federais e locais. Isso precisa ser modelado de forma mais clara. Um sistema central é mais escalável, mais fácil de controlar, e um sistema local tem muitas vantagens para as comunidades locais. Acho que isso é algo onde [a legislação brasileira] deve ser mais clara”, defendeu.