Uma reportagem da Folha de S.Paulo publicada neste final de semana apresentou um levantamento mostrando que há milhares de vídeos no YouTube com roteiros similares que fazem propagandas positivas para jogos de cassino online.
Segundo a Folha, em vídeos publicados em 2024, "supostos robôs que usam IA para prever resultados, plataformas 'bugadas' que dão mais chances ao apostador, horários secretos para melhores lances e dicas de inteligência emocional para gerir bancas são repetidos à exaustão em mais de 3.500 vídeos encontrados pela reportagem".
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Os dados foram extraídos com auxílio de automação e depois passaram por uma análise amostral, feita com inteligência artificial, e o resultados tiveram revisão e checagem humana, afirma a Folha.
Os vídeos analisados violam as regras de jogo responsável publicadas nesta quinta-feira, na Portaria 1.233, que determina as sanções e punições às quais as empresas estão sujeitas em caso de descumprimento de normas legais e regulamentares. "Associam sucesso no jogo a habilidade, fazem propaganda enganosa de ganhos, promovem o “jogo do tigrinho” e semelhantes como alternativa de investimento e não trazem os alertas de que apostas são vedadas para menores de idade", afirma a reportagem. Segundo a normativa, as sanções podem ir de uma advertência a multas de até R$ 2 bilhões e cassação da autorização para explorar apostas.
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Esses vídeos, diz a reportagem, muitas vezes são pano de fundo para a divulgação de links de programas de afiliados - que encaminham os espectadores para sites de casas de apostas e recebem uma parte do dinheiro perdido pelos apostadores.
Além disso, o marketing de afiliados é o ramo da publicidade que, hoje, concentra o maior número de queixas no Conar (Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária).
Apesar da proibição do YouTube em suas normas da divulgação de apostas sem autorização prévia, existem milhares de links de afiliados circulando nos vídeos encontrados. Procurado pela Folha, o YouTube afirmou que usa uma combinação de pessoas e aprendizado de máquina para identificar e remover em escala conteúdo que viole regras da rede.
“Somente de janeiro a março de 2024 foram removidos 8.295.304 vídeos da plataforma. A detecção automatizada de conteúdo em desacordo com as diretrizes foi de 96%, com 6.861.224 dos vídeos removidos atingindo 10 ou menos visualizações”, disse a rede.
Em julho, a Folha mostrou que 2.217 anúncios pagos circularam em Instagram, Facebook e WhatsApp com menções às palavras “tigrinho” e “Fortune Tiger” nos 20 primeiros dias de junho. Os dados constavam na biblioteca e anúncios da Meta.
Além de links de afiliados, havia endereços de grupos de promoção de apostas no Telegram e no WhatsApp e contas de mais afiliados no Instagram. O padrão caracteriza “comportamento coordenado inautêntico” —quando um grupo de contas se mobiliza para manipular o algoritmo e impulsionar a atenção a determinado tema—, o que é proibido pela Meta.