DEPOIMENTO NA CPI DAS APOSTAS NO SENADO

Empresário aponta existência de grande esquema de manipulação de resultados no Brasil

Imagem: Jefferson Rudy/Agência Senado
09-10-2024
Tempo de leitura 2:27 min

Em depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Manipulação de Jogos e Apostas Esportivas do Senado nesta terça-feira, 8 de outubro, o empresário William Rogatto fez supreendentes declarações sobre a manipulação de resultados no futebol brasileiro.

Ele afirmou que já "rebaixou 42 clubes no Brasil', e que atuou na corrupção de jogadores nos 26 estados da federação e no Distrito Federal. A informação é da Agência Senado.

Investigado na Operação Fim de Jogo, do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT), e na Operação Jogada Ensaiada, conduzida pela Polícia Federal, Rogatto disse que já ganhou aproximadamente R$ 300 milhões nesse esquema.

É importante lembrar, como escreveu o jornalista Paulo Vinícius Coelho no UOL, que  Rogatto chegou à CPI das Apostas acusado de ter manipulado apenas duas partidas do clube Santa Maria no Campeonato do Distrito Federal de 2024: Ceilândia 6 x 0 Santa Maria e Gama 5 x 0 Santa Maria. 

William Rogatto durante depoimento (imagem: Jefferson Rudy/Agência Senado)


Sem apresentar nenhuma prova das suas declarações
, Rogatto afirmou por videoconferência (ele mora em Portugal para não ser preso) que "o esquema de manipulação dos jogos só perde para política e o tráfico de drogas, em termo de valores", e que existe uma máfia da manipulação que envolve pessoas dentro da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), das federações, presidentes de clubes, árbitros e atletas.

"O sistema é muito além disso, os grandes não vão cair nunca. Estamos falando de dentro da CBF, de dentro das federações, tenho provas e vídeos. Isso não vai dar em nada, vai fazer vítimas do sistema e, no final, não vai acabar porque não é de agora. Isso existe há mais de 40 anos, eu fiz parte do sistema", disse.

"Sistema"

Hoje com 34 anos, Rogatto disse que está no esquema de manipulação desde 2009, quando, aos 19, teve a ideia de criar uma casa de aposta para lucrar com a manipulação de apostas esportivas após viagem a Las Vegas, onde conheceu os cassinos locais. Além do Brasil, ele teria atuado em nove países, como a Colômbia.

Assista ao depoimento completo de Rogatto na CPI do Senado:

"Eu entrava nos clubes. Enganava alguns. Alguns compactuavam comigo. Como? Me dá R$ 30 mil, R$ 40 mil, R$ 50 mil e você pode fazer o que quiser com meu clube. Se eu puder fazer dinheiro e cair o seu time, problema é seu", alegou. 

Em resposta ao senador Romário (PL-RJ), relator da CPI, Rogatto afirmou que o fato de uma casa de apostas patrocinar um clube “já abre um gatilho para que tudo aconteça”.

"Quando uma bet patrocina o seu clube, automaticamente o jogador se transforma em aposta, ele não recebe um salário digno e a bet vem e dá um suporte. Já operei nos 26 estados e no Distrito Federal", declarou. "A hipocrisia maior do mundo está em ter um clube de futebol hoje e ser patrocinado por uma casa de aposta", taxou em outro momento.

Investigações

Membros da CPI devem ir na próxima semana a Portugal, onde o empresário se dispôs a contar e exibir detalhes do “complexo sistema”, que inclui fotos, vídeos, negociações, gravações e conversas envolvendo a manipulação de jogos, segundo ele. 

A coluna Radar, da Veja, publicou ainda que a Secretaria Nacional de Apostas Esportivas e de Desenvolvimento Econômico do Esporte vai enviar um ofício ao Ministério da Justiça e Segurança Pública pedindo que a Polícia Federal (PF) investigue as alegações de Rogatto à CPI da Manipulação de Jogos e Apostas Esportivas do Senado. 

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