ANÁLISE DE LUIZ ANTONIO SIMAS

Era do jogo do bicho chegará ao fim em meio ao boom das bets, diz historiador

28-10-2024
Tempo de leitura 1:59 min

O tradicional jogo do bicho está com os dias contados, segundo o historiador Luiz Antonio Simas, que falou sobre o tema em uma palestra em São Paulo, durante o lançamento de seu livro Maldito Invento dum Baronete - Uma Breve História do Jogo do Bicho.

Em entrevista ao UOL, o historiador detalhou sua previsão, explicando que o bicho perdeu fôlego e público, dando espaço às telas dos celulares. Para Simas, as apostas digitais, ou bets, tomam espaço no cotidiano das pessoas.

"O mundo está sendo observado pela tela. A rua não está sendo frequentada. A cidade é pensada a partir da circulação do carro e da mercadoria. O bicho é um sintoma", explicou Simas. Em seu livro, ele explora a trajetória do jogo desde o Brasil de 1895, quando a prática popular ganhou fama e resistência.

"A repressão foi em cima da loteria mais pobre e negra — o jogo do bicho", disse ao UOL. Em sua análise, o historiador traça um paralelo entre o tradicional jogo do bicho e os novos jogos de apostas digitais, como o “tigrinho” e os jogos de celular, que mantêm o lúdico, mas intensificam o isolamento da experiência, agora no digital.

Enquanto o bicho representava um encontro entre vizinhos nas ruas, as bets, segundo Simas, substituem essa cultura coletiva pela aposta individual, acessada por uma tela, afastando o que ele chama de “história social do jogo”.

 A série Vale o Escrito, que explora o universo do jogo do bicho e será exibida pela TV Globo, também retrata essa tradição. Mesmo sendo entrevistado e elogiando o projeto, Simas se diz incomodado por ver o jogo abordado exclusivamente sob uma ótica criminal: "Eles tratam o jogo do bicho apenas como a história do crime no Brasil".

Simas fez uma reflexão sobre a renovação do público de apostas. “Entre as bets aprovadas pelo governo está uma chamada ‘Bicho no Pix’. Eu acho que o jogo do bicho propriamente dito vai acabar. Primeiro porque já não rende mais para os banqueiros. Chamar de ‘banqueiro do bicho’ hoje é quase vício de linguagem. O bicho não chega a representar 10% do faturamento de um cara de primeira linha", disse em entrevista. 

Simas reforça a diferença entre o público das apostas digitais e o do jogo do bicho. Enquanto as bets expandem seus jogadores, ele afirma que o jogo do bicho não atrai novos apostadores. "Para escrever esse livro, eu passava as tardes em uma banca, e não tem apostador com menos de 40 anos. Mas as outras loterias, e as que porventura se inspiram no bicho, estão com tudo", concluiu o historiador. 

Vale lembrar que a legalização do jogo do bicho no Brasil está em discussão no projeto de lei (PL) 2.234/22. A proposta, que também libera cassinos e bingos, já foi aprovada na Câmara dos Deputados, na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ) do Senado e aguarda votação no plenário

 
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