Um estudo da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), denominado Panorama das bets, afirma que o setor do varejo "perdeu" cerca de R$ 103 bilhões para o mercado de apostas em 2024.
“Este é o valor estimado do dinheiro que o público gastou com as ‘bets’ em vez de usar para compras de bens e serviços”, registra o estudo, segundo o portal de notícias do MSN .
O economista-chefe da CNC, Felipe Tavares, explica que "o bolso do consumidor é um só" e que "em 2024 mudou o padrão, entrou em cena um novo item chamado apostas esportivas. Com isso, o varejo deixou de faturar R$ 100 bilhões ao longo do ano", avalia. Ao todo, o varejo faturou R$ 3 trilhões em 2024, na projeção da CNC.
O estudo utiliza dados do Banco Central, e revelam que os brasileiros destinaram cerca de R$240 bilhões às bets em 2024 - número que indica que as apostas online causam endividamento e vício, segundo a CNC e, além de afetar os apostadores, gera impactos socioeconômicos significativos para toda a sociedade.
Nas estimativas levantadas pela CNC, cerca de 1,8 milhão de brasileiros teriam entrado em situação de inadimplência por conta das bets em 2024.
Como algumas das soluções para conter o que chama de 'problema', a CNC propõe o estabelecimento de limites de apostas, a criação de programas de prevenção e tratamento para viciados, a realização de campanhas de conscientização pública sobre os riscos associados e a exclusão das modalidades altamente propícias a fraudes e à clandestinidade.
O estudo pode ser lido neste link.
Cruzada
Desde o ano passado, a CNC trava uma batalha com o mercado de apostas. A entidade foi a primeira entrar com uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) contra a lei 14.790/23, que regulamenta as apostas esportivas online, com o objetivo de declarar inconstitucional a lei que regulamenta o setor.
A CNC também já tinha publicado estudo próprio em que faz uma relação direta do crescimento das apostas e cassinos on-line com a inadimplência no país e uma suposta queda de consumo no varejo, e afirmou no primeiro semestre de 2024, “os cassinos online colocaram 1,3 milhão de brasileiros em situação de inadimplência, retirando R$ 1,1 bilhão do consumo do varejo nacional”.
'Análise equivocada'
Especialistas do setor refutaram os dados apresentados pelo estudo. O presidente do Instituto Jogo Legal (IJL) e editor do BNLData, Magnho José, escreveu em seu site que "a análise do economista da CNC é totalmente equivocada e leviana em vários aspectos".
Ele afirma que "todas as análises e estudos que estão sendo publicados sobre o mercado de apostas online no Brasil devem ser tratados como especulativos para produzir narrativas distorcidas", e que apenas com a regulamentação haverá "dados oficiais e confiáveis".
O próprio Banco Central já afirmou que seu relatório indicando que beneficiários do Bolsa Família enviaram R$ 3 bilhões em Pix para casas de apostas em agosto pode ter falhas.
Em outubro, o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, liderado pelo vice-presidente Geraldo Alckmin, emitiu uma nota técnica afirmando que as apostas esportivas online não provocaram a desaceleração no comércio varejista, nem contribuíram para o aumento do endividamento das famílias brasileiras.