VIOLAÇÃO DE LEIS DE PROTEÇÃO DE DADOS

Reino Unido: casas de apostas compartilham dados de usuários com Meta sem consentimento, aponta investigação

Foto: Freepik
18-02-2025
Tempo de leitura 2:30 min

Uma investigação no Reino Unido revelou suspeitas de que diversas empresas de apostas estariam rastreando visitantes de seus sites e compartilhando dados com a Meta, controladora do Facebook, sem o devido consentimento. A prática, que pode configurar violação das leis de proteção de dados, tem resultado na exibição massiva de anúncios de cassinos e plataformas de apostas para esses usuários. 

Reportagem do jornal britânico The Guardian destaca que o rastreamento ocorre por meio de uma ferramenta chamada Meta Pixel, embutida em dezenas de sites de apostas do Reino Unido. Segundo a publicação, o código invisível coleta informações sobre as páginas visitadas e os botões clicados pelos usuários e as envia para a Meta, permitindo que a empresa os categorize como interessados em jogos de azar.

De acordo com as normas de privacidade, o compartilhamento de dados para fins de marketing deve ocorrer somente com a permissão explícita dos usuários. No entanto, testes realizados pelo jornal Observer em 150 sites de apostas – incluindo cassinos virtuais, plataformas de apostas esportivas e bingos online – revelaram que 52 deles enviaram informações automaticamente para a Meta sem a devida autorização.

Especialistas em privacidade digital demonstraram preocupação com o caso. Wolfie Christl, pesquisador da área, destacou que a Meta tem responsabilidade sobre essas práticas. “Compartilhar dados com a Meta já é problemático mesmo com consentimento, mas fazer sem permissão explícita demonstra um desrespeito flagrante à legislação. A Meta é cúmplice e precisa ser responsabilizada”, afirmou.

Entre as plataformas identificadas no relatório estão Hollywoodbets, Sporting Index, Bwin, Lottoland, 10Bet e Bet442. A investigação apontou que os dados começaram a ser transmitidos automaticamente no momento em que as páginas eram carregadas, sem que o visitante tivesse aceitado ou recusado o uso de informações para marketing. Em seguida, os usuários passaram a ser bombardeados com anúncios de casas de apostas no Facebook.

Além dos sites que compartilharam informações sem consentimento, outras marcas do setor, como Ladbrokes, Sky Bet, BetVictor, Tombola e bet365, também exibiram anúncios para esses usuários, embora dentro das regras estabelecidas pelo Meta Pixel.

A Comissão de Apostas do Reino Unido anunciou medidas para restringir práticas de marketing, como o chamado cross-selling, em que empresas promovem outros produtos de seu portfólio para clientes existentes. No entanto, ainda não há regras que impeçam o uso de perfis de dados criados por terceiros, como a Meta, para atrair novos jogadores.

A Meta não comentou diretamente sobre a investigação, mas reiterou que suas diretrizes exigem que anunciantes obtenham consentimento dos usuários antes de compartilhar dados. “Educamos os anunciantes sobre a configuração correta das ferramentas de negócios”, afirmou um porta-voz.

A Betting and Gaming Council, associação que representa o setor, declarou que as campanhas publicitárias do segmento seguem diretrizes rígidas e que mensagens sobre jogo responsável são regularmente exibidas. Já a Comissão de Apostas enfatizou que as operadoras devem garantir que qualquer uso de dados seja legal e não contribua para o risco de vício em jogos de azar.

Segundo o The Guardian, após a publicação da investigação, algumas operadoras atualizaram seus sites para interromper o compartilhamento automático de dados ou removeram completamente o Meta Pixel. A Bwin, por exemplo, alegou que um “erro interno” fez com que uma página promocional não estivesse em conformidade com os demais sites do grupo e garantiu ter corrigido o problema. A AG Communications, que opera 26 sites de apostas envolvidos no caso, afirmou levar suas obrigações regulatórias “extremamente a sério”.

A Hollywoodbets, patrocinadora do clube Brentford, da Premier League, declarou cumprir todas as exigências regulatórias, mas não comentou sobre as descobertas do relatório. Já a Lottoland, que afirma ter 20 milhões de clientes, não se pronunciou. Sporting Index e 10Bet também não responderam aos pedidos de comentário enviados pelo jornal. 

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