INVESTIGAÇÃO POLICIAL

Quadrilha de brasileiros manipulava jogos na segunda divisão do Equador

Foto: TV Globo/Reprodução
15-04-2025
Tempo de leitura 3:03 min

Vídeos e áudios inéditos revelaram os bastidores de uma quadrilha especializada em manipulação de resultados de partidas de futebol. O grupo atuava em jogos no Brasil e no exterior, com o objetivo de faturar milhões por meio de apostas esportivas online. O esquema só foi desmascarado após tentativas de subornar o presidente de um clube goiano que também é delegado de polícia.

As gravações foram obtidas pelo Fantástico, da TV Globo, e mostram conversas entre os integrantes da organização criminosa, que tentavam cooptar dirigentes e atletas. O foco eram clubes menores, com menos visibilidade e fiscalização.

Um deles era o Vargas Torres, da segunda divisão do Equador. Na conversa que veio a público, os membros do grupo se mostram irritados com os jogadores do clube após terem "encomendado" uma derrota por 3 a 0. O time, no entanto, foi derrotado por apenas 2 a 0, fazendo com que os manipuladores perdessem dinheiro nas apostas. A partida em questão foi em 2023, contra o Deportivo Macará.

"Aqui tem dois homens que perderam muito dinheiro", diz o aliciador a um jogador do clube equatoriano, em uma gravação obtida pelo Fantástico.

O delegado Marco Antônio Maia, presidente do Goianésia Esporte Clube, foi abordado para a tentativa de manipulação. “Inicialmente, eu achei que tratava de um patrocínio e comecei a conversar com ele. E, durante essa conversa, a gente viu que realmente não era nada legalizado”, disse ele em entrevista ao programa.

Segundo o delegado, o plano incluía investimentos no Goianésia para formar um time competitivo, com a condição de entregar resultados combinados no Campeonato Goiano de 2023. Como a negociação não evoluiu, meses depois ele recebeu nova abordagem: o grupo queria que ele intermediasse o contato com outro clube goiano, este sim com vaga garantida na Série D do Campeonato Brasileiro.

Não sabe quem 'tá' no sufoco aí precisando de alguém para chegar junto?”, questiona Fábio Francisco de Oliveira, apontado como um dos articuladores do esquema. Ele ainda reforça: “O senhor não vai ser esquecido. Todo mês vai pingar o seu aí também.”

Diante das tentativas de aliciamento, o dirigente entregou as provas à polícia. A partir daí, a Polícia Civil de Goiás deflagrou a Operação Jogada Marcada, que prendeu seis pessoas envolvidas no esquema.

Entre os detidos estão Fábio Francisco de Oliveira, Leonardo Lobo Araújo – solto após audiência de custódia –, e Cleuson de Souza Barros, ex-presidente do Crato Futebol Clube. Todos são investigados por manipulação de resultados, estelionato e organização criminosa.

De acordo com as autoridades, Cleuson recebeu depósitos bancários de Fábio antes de ao menos dez jogos do Crato no Campeonato Cearense de 2022. O time teve nove derrotas e um empate, o que levantou suspeitas e resultou na suspensão do clube durante a competição pela Justiça Desportiva do Ceará.

As defesas dos acusados criticaram as prisões. Em nota ao Fantástico, o advogado de Cleuson alegou que seu cliente já havia prestado esclarecimentos em 2022 e que a prisão foi desnecessária. Já a defesa de Fábio classificou a prisão como ilegal e afirmou que ainda não teve acesso integral ao processo. A defesa de Leonardo não respondeu ao Fantástico.

Fraudes teriam movimentado R$ 11 milhões

Segundo a Polícia Civil de Goiás, a operação foi deflagrada no dia 9 de abril em seis estados brasileiros, cumprindo 16 medidas judiciais, entre mandados de prisão e de busca e apreensão. As fraudes teriam movimentado pelo menos R$ 11 milhões, boa parte por meio de plataformas de apostas esportivas.

As investigações revelam uma estrutura hierárquica sofisticada, com financiadores, intermediários e executores, entre eles jogadores, técnicos e dirigentes. Entre os presos também estão o ex-presidente do Crato Esporte Clube, Ivan Barros, e o ex-árbitro D'Guerro Batista Xavier, da Federação Paraibana.

D’Guerro foi detido na Paraíba, acusado de envolvimento na manipulação de partidas da Série B do Campeonato Brasileiro. Segundo a polícia, ele já havia sido investigado na Operação Cartola, em 2018, e estava afastado da arbitragem desde então.

As investigações continuam para identificar outros envolvidos e dimensionar o alcance do esquema criminoso.

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