Uma movimentação atípica no mercado de apostas esportivas chamou a atenção de operadoras e da Polícia Federal durante o duelo entre Flamengo e Santos, em 1º de novembro de 2023, pelo Campeonato Brasileiro. Três empresas de apostas identificaram concentração fora do normal nas apostas relacionadas a cartões amarelos para o atacante Bruno Henrique, conforme publicou o g1.
Segundo informações, em uma das casas de apostas, 98% do volume do mercado de cartões estava direcionado ao jogador rubro-negro. Em outra, o índice foi de 95%. A terceira operadora não especificou percentual, mas classificou o volume como um "direcionamento significativo das apostas".
A média histórica de apostas relacionadas ao recebimento de cartões por Bruno Henrique era de apenas 15%, conforme dados analisados pela Polícia Federal com base nos Campeonatos Brasileiros de 2023 e 2024.
Essas anomalias acenderam o sinal de alerta. As operadoras encaminharam um relatório à Confederação Brasileira de Futebol (CBF) no dia 1º de agosto de 2024. Apenas oito dias depois, a Polícia Federal iniciou investigação sobre o caso, que culminou no indiciamento do jogador e de outras nove pessoas nesta terça-feira, 15 de abril.
A investigação identificou indícios de irregularidades que vão além da concentração de apostas. Segundo a PF:
As apostas foram feitas em contas abertas na véspera ou no dia do jogo contra o Santos;
Usuários já cadastrados apostaram valores maiores ou com comportamento fora do padrão habitual;
Houve concentração de apostadores em Belo Horizonte, cidade natal de Bruno Henrique.
O inquérito revelou dois núcleos distintos de apostadores: o grupo de familiares de Bruno Henrique e um segundo grupo, sem vínculo direto com o jogador. Ao todo, nove pessoas foram indiciadas.
Entre os familiares, estão o irmão do jogador, Wander Nunes Pinto Júnior, sua cunhada e uma prima. No outro grupo, seis pessoas não ligadas diretamente ao atleta fizeram apostas semelhantes. Wander seria o elo entre os dois grupos, ao manter contato com Claudinei Vítor Mosquete Bassan, um dos apostadores do segundo núcleo.
Em conversas obtidas pela PF, os investigados reclamam da demora em o jogador receber o cartão amarelo. O juiz da partida, Rafael Klein, só aplicou a punição a Bruno Henrique nos acréscimos do segundo tempo.
O Clube de Regatas do Flamengo, se manifestou por meio de nota:
"O Flamengo não foi comunicado oficialmente por qualquer autoridade pública acerca dos fatos que vêm sendo noticiados pela imprensa sobre o atleta Bruno Henrique. O Clube tem compromisso com o cumprimento das regras de fair play desportivo, mas defende, por igual, a aplicação do princípio constitucional da presunção de inocência e o devido processo legal, com ênfase no contraditório e na ampla defesa, valores que sustentam o estado democrático de direito".
O relatório final da PF será encaminhado ao Ministério Público, que decidirá se apresenta ou não denúncia formal contra os envolvidos.